Criar uma cultura inovadora é um dos maiores e mais importantes desafios que um líder irá enfrentar, pois envolve atacar as raízes do comportamento humano.
Ainda mais desafiador será transformar uma cultura calcificada ao longo de muitos anos.
Neste artigo pretendo contar um pouco dos desafios vividos durante minha experiência à frente de um processo de transformação digital, e também apontar um método para quem pretende transformar sua empresa, criando uma cultura digital inovadora.
Mudar é desafiador. Mudar culturas, assim como hábitos, requer tempo, técnica, esforço e muita coragem. Requer primeiramente mudar a si mesmo e estar seguro de que, na liderança desse time, estão pessoas que são exemplo de um mindset de um inovador.

“If you can’t do something, don’t think you can tell others how it should be done”
– Ray Dalio (Principles)
Além de uma boa autoanálise, seguida de uma profunda mudança pessoal, o líder que decide mudar a cultura de uma empresa, inevitavelmente terá que lidar com muita resistência e dor do time. É fundamental ser transparente desde o início, deixando claro que criar e manter uma cultura inovadora não vai ser somente divertido, vai ser doloroso também.
Dói porque a construção de uma cultura inovadora exige uma combinação de comportamentos aparentemente contraditórios, mas que na realidade se complementam e se reforçam. Dentre eles:
- Permitir a experimentação e ter naturalidade com as falhas que geram aprendizado. Todos erramos muito durante o processo de inovação;
- Implantar um método de trabalho que privilegie a disciplina e a repetição, especialmente no que tange a iteração em busca de encontrar um produto/serviço que faça sentido na vida do meu cliente (PMF – Product Market Fit). A mudança somente virá com muita consistência no longo prazo;
- Criar um ambiente seguro emocionalmente. É fundamental que as pessoas se sintam seguras para reportar feedbacks negativos, para encerrar um projeto (MVP – Minimum Viable Product) ruim, para compartilhar erros, etc. Isso acelera o processo de inovação e aprendizado, bem como, permite que a empresa não repita os mesmo erros;
- Permitir que as pessoas decidam, mas que também saibam que serão responsáveis por suas decisões. Inclusive cabe ao líder assumir publicamente as consequências por suas ações e decisões;
- Criar uma empresa horizontal, onde todos se sintam empoderados para decidir e opinar, mas em paralelo garantir que o time saiba claramente onde a empresa quer chegar, e quais são seus valores e comportamentos desejados;
- Ter claro e comunicar o objetivo maior da empresa, a sua visão, mas cuidar para se manter no presente, com ações diárias o mais simples possível, e que assim permitam construir a inovação no longo prazo.
Felizmente encontrei em meu caminho uma metodologia, a qual agarrei com unhas e dentes, que foi o SCRUM.

Em 2017 comecei a ler sobre metodologias ágeis, sem muito saber o que significava. No entanto, os relatos de quem aplicou eram incríveis.
Comecei pelo livro “SCRUM, A ARTE DE FAZER O DOBRO NA METADE DO TEMPO”. Não pretendo esgotar o assunto em um artigo, por isso recomendo a leitura do livro.
O SCRUM preconiza papeis, artefatos e eventos e foi criado originalmente para o desenvolvimento de software.
No entanto, empresas ao redor do mundo realizavam cada uma a sua própria adaptação necessária, utilizando o SCRUM para todo o tipo de negócio. Assim sendo, aos poucos adaptamos o método para o mercado imobiliário, e hoje não consigo imaginar a gestão de uma empresa sem os seus princípios.
O segredo é entender a dinâmica e os princípios do SCRUM, assim as adaptações necessárias ficarão evidentes, e começarão a gerar resultados incríveis em pouco tempo.
Mas qual o primeiro passo?
A forma mais eficiente que encontrei para começar a usar o SCRUM na gestão de uma empresa de serviços (mercado imobiliário) foi através da implantação dos encontros diários (dailies). São encontros de 15 a 30 minutos, onde todos têm a oportunidade de falar como foram as suas atividades do dia anterior, qual seu compromisso para o dia seguinte, e o que o impede de obter melhores resultados.
Nesses encontros diários, sempre busquei reforçar os 3 fundamentos do SCRUM:
Transparência – Compartilhar tudo, exatamente tudo que a empresa estava vivendo. Isso gera senso de pertencimento, e envolve as pessoas como donas da empresa;
Inspeção – O progresso das atividades é inspecionado diariamente, permitindo que o terceiro fundamento entre em cena;
Adaptação – Com base na inspeção, a adaptação aos problemas encontrados será diária. Fazendo entregas diárias, a evolução dos processos e métodos se torna exponencial, e adota uma velocidade muito superior aos métodos de gestão tradicionais.
Com o tempo fizemos novas adaptações, e também permitimos a entrada de novos tipos de profissionais que antes não tínhamos em nossa empresa, além de adotar novos eventos e artefatos do SCRUM.
Deixo então as 3 dicas para testar este método em sua empresa, e transformar a sua empresa em um ambiente inovador e com uma cultura digital forte!
1 – Todo o time ler o livro;
2 – Instituir o encontro diário (sugiro começar com somente 15 minutos);
3 – Praticar os fundamentos da transparência, inspeção e adaptação.
Acredito que, pessoas reunidas todo dia, e com base em um método tão transformador, certamente o resultado será positivo, qualquer que seja o caminho o qual sua empresa decidir tomar.